Espiritualidade e religião não são o mesmo.
Pessoas podem seguir uma religião e não se tornarem espiritualizadas.
Outras podem ser espiritualizadas e não seguir nenhuma religião.
O professor Faustino Teixeira, da Universidade Federal de Juiz de Fora, descreve as religiões como irradiações de um mistério. Esse mistério não pode ser nomeado, pois está além das ideias humanas, das palavras e dos conceitos.
A partir da percepção desse mistério foram, serão e são criadas as várias religiões.
Vamos imaginá-las – as religiões – como um círculo. Elas são essa circunferência. As pessoas que procuram a interiorização, o silêncio, o conhecimento profundo de si mesmo e dos valores religiosos, conforme vão se aprofundando em direção ao centro da circunferência, vão, simultaneamente, se afastando do círculo.
Pode-se chegar ao centro através de qualquer das várias religiões ou através dessa interiorização, independente de qualquer religião. Nesse centro está o vazio, o eu verdadeiro, o nada fixo, o nada permanente. Esse centro é onde se encontram todas as pessoas místicas, onde nos reconhecemos por haver acessado à fonte pura e cristalina da verdade e do caminho.
Entretanto, nos distanciamos dos valores da tradição, nos distanciamos das filosofias, dos conceitos, dogmas, ideias, palavras, ideais.
Nos aproximamos e nos tornamos o ser real, verdadeiro, pleno, simples, puro.
Nem todas as pessoas acessam esse local. Muitas se contentam em cristalizar alguns ensinamentos, que bem serviram como tábua de salvação para suas dores e desconfortos.
Os cristais também nos ensinam muito. As cristalizações que fazemos, entretanto, podem nos prejudicar.
Invés de acessar a pureza que vai além do puro e do impuro, se limitam e se prendem ao superficial do mundo e da vida e nunca conseguem se aprofundar na verdade e no Caminho.
Existem práticas espirituais mais radicais.
Radical, de ir à raiz, à origem.
“Qual a face que você tinha antes de seus pais nascerem?”
Essa pergunta é colocada para pessoas que praticam meditação (Zazen – sentar-se em Zen, no Zen Budismo).
Deve sentar-se com a questão. Não descansar enquanto não penetrar o impenetrável.
Esse treinamento é sempre feito com uma pessoa mais experiente. Enquanto a praticante estiver no universo das ideias e pensamentos jamais será aprovada. Quando abandonar o pensar e o não pensar estará se aproximando do centro do círculo.
Devemos estimular todas as pessoas a procurar dentro de si mesmas pela verdade, pela sabedoria e pela compaixão ilimitadas.
Zazen – sentar-se em meditação silenciosa, sem estímlos especiais, sem música, sem palavras externas.
Ouvir a própria mente, o próprio coração e se libertar de apegos e aversões.
A sabedoria se manifesta e o caminho se abre em inúmeras possibilidades.
Texto adaptado, de Monja Coen